Centro atendeu quatro mil imigrantes num ano Serviço Jesuíta aos Refugiados ajuda a construir projectos de vida
"Só em 2009, o Serviço Jesuíta aos Refugiados atendeu cerca de quatro mil imigrantes em Portugal. A inserção profissional e a regularização são dificuldades comuns a quase todos, mas também há muita gente a procurar comida, medicamentos e sítio para dormir.
A chegada de Radion Morari a Portugal, há sete anos, foi dramática. Com 21 anos de idade, o moldavo não falava uma palavra de português. Sem conseguir integrar-se, caiu numa espiral de degradação que o levou a viver na rua durante três anos, quase sempre alcoolizado. Um tratamento de desintoxicação numa comunidade terapêutica foi o primeiro passo para a mudança de rota, que prossegue, há ano e meio, no centro de acolhimento Pedro Arrupe, do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS, na sigla internacional), na Ameixoeira, em Lisboa.
"Não foi nada fácil", recorda Radion Morari, "Não desejo a ninguém o que passei. Mas aqui no centro foi toda a gente muito acolhedora. Graças a eles, tenho os papéis todos e estou a tentar refazer a vida", diz o moldavo, hoje empregado como ajudante de pasteleiro.
Mais atrasado está o processo de Ibrahim Cio, 23 anos, chegado da Mauritânia há 16 meses "para salvar a vida". Quando pôs os pés em Portugal, nem sabia em que país estava - só sabia que entrara na Europa. Agora, a viver no centro há dez meses, ainda não regularizou por completo a sua situação, o que dificulta a procura de trabalho.
Radion e Ibrahim são dois dos 25 residentes do centro de acolhimento temporário, que tem uma lista de espera de mais de 40 pessoas. André Costa Jorge, director do JRS Portugal, explica que, ali, os imigrantes comprometem-se a cumprir a sua parte de um acordo que passa pela concretização do seu processo de vida e um conjunto de regras, como a participação nas tarefas domésticas e a proibição de consumir drogas ou álcool.
"Muitas das pessoas que aqui chegam dormiam na rua e estão devastadas psicologicamente, sem amigos e sem disciplina", explica. "Tentamos reeducá-las socialmente e ajudá-las a autonomizar-se", diz o responsável, notando que, das 13 pessoas que saíram do centro no primeiro semestre, 11 tinham realizado o seu projecto de vida, incluindo emprego, casa e regularização."Queremos ajudar pessoas que foram destituídas dos direitos mais fundamentais", diz André Costa Jorge. "Como dizia o nosso fundador, Pedro Arrupe, o JRS tem de estar onde mais ninguém está".
Fonte: JN
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