24.8.10

Iniciativa RTP 2...



Preconceito, racismo, julgar, solidão, educação, maus tratos, música, bairro, crioulo. Nove palavras soltas, tantas quantos os jovens/futuros realizadores. Descrevem as suas realidades (os seus problemas), vividas em bairros sociais às portas de Lisboa, no terceiro workshop da série B.I., gravada em bairros sociais: Setúbal, Coimbra, Loures e Vila do Bispo. Os melhores têm direito a transmissão na RTP2.

Os protagonistas/argumentistas/realizadores têm entre 16 e 23 anos, são portugueses ou naturais dos PALOP (Países Africanos de Língua Portuguesa), mas têm todos raízes africanas. Vieram da Quinta do Mocho, do Catujal, do Zambujal, da Quinta da Fonte, para se encontrarem na Apelação, Loures. Contrariando, até, rivalidades entres os bairros.

"O facto de o workshop ser na Apelação impediu que muita gente participasse", comenta Filipa Reis, uma das realizadores da série. O outro é João Miller Guerra. Ainda, assim, tiveram muitos candidatos e acabaram por seleccionar nove, quando o limite era de oito por cada bairro. "Para as raparigas é mais fácil; não temos problemas com ninguém, a rivalidade é entre rapazes", explica Vânia Gomes, 20 anos, originária da Guiné-Bissau. Vive em Londres, onde estuda "business", mas passa mais tempo em Portugal, mais propriamente na Quinta da Fonte, onde reside, em Portugal. "Sou viciada nisto, em Inglaterra até dizem que vivo aqui e faço férias lá", ri-se.

Vânia vai acompanhar um dos grupos locais. "São jovens que tinham atitudes marginais, mas reflectiram e tomaram um bom rumo", conta. Eram os Chocolat Gang e agora são os Quebrada 55, localização do prédio onde se encontram e ensaiam. Não será a única curta-metragem sobre as músicas que se fazem nos bairros. Arlindo Amado, 18 anos, pertence ao grupo rap- -crioulo Soldiers RDM (rapazes do micro) e quer contar como se formou esta banda do Zambujal. E Paulo Amadeu, 17 anos, desvendará a Nova Geração Kuduru, da Quinta do Mocho. O Tiago Pereira, 19 anos, também faz parte dos Soldiers RDM, mas como o tema estava esgotado, optou por descobrir as origens locais: História do Meu Bairro.

Antes que comecem as filmagens é preciso conhecer bem o equipamento e afinar pormenores, como pedir autorizações para as filmagens em locais públicos e garantir que as personagens principais estejam disponíveis. "Como é que se posiciona o perche (pé com o microfone)? Desses dois, qual é o melhor? E se tropeçar?", são algumas das perguntas. Constituídas as equipas (realizador, fotógrafo, perchista e produtor), é a hora de acção.

O Iuri Policarpo, 20 anos, filma as relações amorosas de um jovem casal, as dificuldades de uma rapariga branca por namorar um rapaz negro. Os pais não aceitam de maneira nenhuma. Um preconceito que Iuri sente por namorar uma caucasiana. E os pais dele aceitam a namorada branca? "A minha mãe aceita muito bem, o meu pai pergunta sempre se não arranjo uma rapariga preta, mas aceita", responde o jovem. Laura Ramos, 16 anos, filma a "má educação" de alguém que sente que pode ser malcriado para o outro só porque tem uma cor da pele diferente. Racismo que ela e a mãe já sentiram, mesmo quando fizerem uma boa acção.

A Daisy, 23 anos, de São Tomé e Príncipe, sofreu maus tratos em criança e quer alertar para o problema e "ajudar essas crianças". E Arcelindo Gomes, 18 anos, de Cabo Verde, está procupado com a solidão dos idosos. "Em Portugal, as pessoas mais velhas estão muito sós. Isso não acontece em Cabo Verde. Respeitamos mais o idoso", lamenta.

Não julgue o que não conhece é o título do filme de Ericson da Silva, 20 anos, nascido na Guiné-Bissau. "É sobre um rapaz que por ter uma certa aparência e viver num bairro social é julgado de forma diferente". Um tema que todos os outros jovens dizem compreender bem.

Uma semana que resulta em nove filmes de 25 minutos. Os três melhores farão parte da série B.I., bem como os melhores realizados em outros três bairros. "O tema de base é a pertença ou identidade. O que nos interessa é a visão deles sobre os temas que escolhem. É dar voz aos protagonistas", explica Filipa Reis.

Fonte: Diário de Notícias

2 comentários:

Lila* disse...

ESpero que nao te importes, mas vou fazer referencia a este artigo no meu blogue:)

fcorreia disse...

Claro!!! Não há problema nenhum... ;)