Fotografia de Bernard Hoffman (1940) de uma escola primária portuguesa.
A propósito da notícia que veiculou durante a última semana na comunicação social portuguesa na qual se afirmava que "Mais de 10 mil crianças com fome nas escolas", publico texto da autoria de J. A. Pinto de Matos:
"O contexto socioeconómico das escolas muda vertiginosamente, num ambiente de crise que se generaliza, e os problemas emergentes penetram o seu portão e determinam as suas dinâmicas.
A ideologia neoliberal, que “contamina” a economia global, impôs a flexibilidade e a precariedade dos empregos como normas basilares para a sua competitividade e sustentabilidade.
Atua a um ritmo galopante, insensível às “resistências” e, insidiosamente (às claras já), dissemina a opinião de que se trata duma inevitabilidade. Neste clima, as organizações adequam as necessidades de mão-de-obra às necessidades do mercado e da produção, assim “desregulado”, e o desemprego dispara para níveis insuportáveis. As incertezas, a pobreza e a exclusão espalham-se e refreiam a resistência (instalam-se medos…). A fome ganha terreno e atinge setores sociais que até agora pareciam encontrar-se a salvo.
O tema da fome foi amplamente glosado, nesta semana, com polémicas várias. E a escola também esteve envolvida, porque ela é um cadinho onde desagua tudo o que interage na sociedade. A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação denunciou, no Parlamento, que “há fome nas escolas”.
A afirmação, assim divulgada, na secura de título, teve impacto, mas carece de alguma precisão, quanto à sua génese e âmbito. Não, não há fome nas escolas; há é crianças e jovens que entram nas escolas com fome. As escolas ainda vão conseguindo dar respostar, no seu interior, a este problema. A ação social escolar é uma área que funciona bem, que responde às situações de maior carência.
Sempre as escolas atentaram e atuaram no debelar dos casos mais necessitados, não só com a distribuição do almoço, mas também com a atribuição de suplementos alimentares. É sabido, por ser frequentemente divulgado na comunicação social, que é na escola que muitas crianças e jovens têm a única refeição condigna. No entanto, com os “cortes na educação” que se anunciam para o orçamento de 2013, poderá também estar em causa esta capacidade de atuação, exatamente num contexto em que se prefigura de maior acuidade."
Fonte: Correio do Minho
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